Como começar e terminar a escrita de um relatório?

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Já sabemos que escrever é um exercício que parece simples mas, na prática, é algo muito difícil para alguns professores. A boa notícia é que pode ficar mais fácil se você usar os recursos certos. O momento de produção da escrita de um relatório na educação infantil é o momento de organizar todas as observações, materiais e produções da criança a fim de tecer uma narrativa que mostre sua trajetória, individualidades, suas conquistas e aprendizagens. É o momento de estabelecer mais uma conversa com as famílias, fortificar laços e caminhar rumo a próxima etapa com essa parceria ainda mais consistente.

O que considerar para iniciar a escrita 

Leve em consideração a etapa do ano, se é início ou fim do ano letivo. Pense se a criança está começando na escola ou se é veterana. Busque em seus registros, particularidades de cada criança e escreva enriquecendo e atribuindo personalidade aos relatórios. Cada criança é única. O relatório também. E cada criança tem o direito de ter o seu: pessoal e intransferível. A seguir, apresento alguns exemplos que podem te ajudar a começar a escrever:

“Começamos o(a) (segundo-a) semestre ( etapa) com muitas histórias para contar! Retornamos das férias ( do recesso) com grande entusiasmo, com vontade de voltar (começar na) para a escola e rever (conhecer) os colegas. Todos os dias, no momento da chegada, xxxxxxxx, entra na sala sozinha ( com os pais, despede-se), cumprimenta os colegas, a professora, abre a mochila, tira a agenda, coloca na mesa da professora, guarda seus pertences e escolhe onde vai brincar. Dessa maneira, demonstra tranquilidade, segurança, organização com seu material e a capacidade de fazer escolhas”.

No berçário:

 “Retomamos as aulas com o grupo em pleno desenvolvimento! Com muita alegria! Todas as crianças já estão andando e essa novidade gerou uma nova organização do espaço para os pequenos continuarem fazendo suas pesquisas e descobertas. XXXXX demonstra cada dia mais segurança nos movimentos. Apresenta passos firmes, apoia-se algumas vezes durante os percursos que faz pelos espaços da sala, da escola. Quando se desequilibra e cai, concentra-se nos movimentos para se erguer abre um sorriso e levanta-se sozinho, demonstrando alegria por essa conquista”.

“Ao iniciar esse semestre, percebi o grupo ainda mais envolvido com a organização da sala e dos materiais escolares. Por isso, contei com a ajuda da meninada para mudar e preparar um novo ambiente para os nossos momentos de histórias. Criamos um tapete com tintas e tecidos, almofadas e colocamos os livros preferidos em uma caixa pintada pela meninada. A turma de 4 anos está envolvida e pronta para novas aprendizagens!”

“XXXXX mostrou-se, inicialmente, desinteressado pela criação desse espaço. Ficava distante e quando chamava para participar, não mostrava interesse, preferia desenhar sozinho na mesa do canto oposto em que as crianças trabalhavam. Foram vários chamados e várias negativas. Até que um dia, como atividade, ele trouxe de casa uma almofada e tudo mudou. Ele a pintou com azul, sua cor preferida e várias vezes ao dia, vai para o canto, pega a almofada, e começa a “ler” o livro que mais gosta, Gato Xadrez. Com isso, está demonstrando cada vez mais interesse pelos livros, gosta de observar e folhear. Estamos começando a investir no reconto utilizando as figuras da história do Gato xadrez. Como fazemos na rotina todo dia. Entrego para ele e ele as coloca na ordem em que quer “contar”. Outro dia, organizando figuras dessa maneira, “contou” a história para os colegas. No fim, demonstrou satisfação fechando com cuidado o livro e abrindo um sorrisão para mim. Balbucia poucas palavras na escola, pede água e pede quando quer ir brincar fora da sala e diz: sair! Apontando para a porta.”

Para fechar a escrita

Depois de escrever sobre as manifestações, aprendizagens e avanços das crianças, é hora de “fechar” a escrita. Deve-se ter em mente que, na verdade, encerra-se apenas uma etapa, enquanto outras novas possibilidades se abrem. Veja alguns exemplos que podem inspirar:

“Foi ano de uma convivência muito legal, eu gostei muito de conhecer você, xxxx, e poder compartilhar com você seus pais uma etapa importante da sua formação. Desejo um ano-novo repleto de alegrias e novas conquistas na Fase 3!… Um grande abraço,YYYYYY”

“No trabalho realizado com a turma de 5 anos, procurei promover situações pedagógicas que evidenciassem a investigação, criatividade e o respeito pela individualidade e pelas construções de cada criança, de forma que elas avançassem na conquista de sua autonomia. Da mesma maneira, despertar a consciência das vivências em grupos no exercício da solidariedade nos fez crescer. Assim, voltando aos primeiros dias na escola, vejo com clareza como o grupo amadureceu, envolvendo-se com interesse nas atividades propostas e estabelecendo fortes vínculos afetivos entre eles”.

“XXXXXXX chegou ao grupo em Agosto e, naturalmente, teve seu tempo para se apropriar da rotina, dos momentos e  ambientes. Participou ativamente da construção dos combinados do grupo e muitas vezes precisava ser lembrada pelos colegas. Apresentava postura contraditória ao grupo, mostrava-se irritada com atitudes dos novos amigos e algumas vezes externava seus sentimentos usando a força física. Nesses momentos, acolhemos e conversamos nas rodas de papo sério do grupo. Aos poucos foi compreendendo, se abrindo para o contato com colegas e atualmente está contribuindo para a manutenção das regras da turma, demonstrando segurança e amadurecimento ao resolver conflitos através do diálogo. Essa atitude representa um grande avanço nas relações! recebe seu crescimento e está feliz com isso.”

“Avaliar continuamente e incluir as crianças nesses processos fez toda a diferença no encaminhamento das propostas de trabalho. Através das rodas de conversas, das conversas informais entre elas, de uma escuta mais sensível e da tomada da decisão de mudar os caminhos, nós nos organizamos, ficamos mais próximos, criamos vínculos.  Percebo a mudança de postura de xxxxxx, a forma como pensa a organização, como está mais empenhada nos trabalhos, como sente-se feliz em compartilhar o que já sabe. Até mesmo chorinhos e birras foram, aos poucos, dando lugar ao diálogo e entendimento. As brincadeiras compartilhadas, jogos e momentos de estar junto, dividir, compartilhar, ajudar. Perceber o outro, ajudou na percepção do EU. E assim xxxxx cresceu, viveu experiências construtivas e se divertiu muito nessa etapa do 1º período. Que venham novas conquistas no próximo ano!”

“Encerramos essa etapa de trabalho com a certeza de que estamos caminhando juntos e realizando os objetivos propostos em nosso primeiro encontro no 2º semestre. Também sabemos o que não foi possível concretizar e o que é preciso mudar para a constante evolução do trabalho na creche. Estamos gratos por participar do processo de formação de XXXXX e contamos sempre com a presença e participação da família. Desejamos muitas conquistas pela vida afora. Boas Férias!”

O melhor modelo de relatório é você quem faz!

Os exemplos citados foram recolhidos de relatórios escritos por mim e por outros professores de educação infantil e são disponibilizados aqui para inspirar sua escrita. Não existe um modelo ideal nem um jeito certo ou errado de fazer. Leve em consideração o seu contexto escolar para iniciar a escrita. Pense em cada uma de suas crianças e busque ser ético, objetivo e simples. Escreva a partir de suas anotações, observações e principalmente, das relações que envolvem o bebê ou a criança.  Essa sim, é a escrita perfeita! Escrever é um exercício importante para a reflexão da própria prática. É só começar!