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Em nosso país, 19 de abril, no calendário de datas comemorativas escolares é Dia do Índio. Mas um grave erro conceitual já pode ser visto nessa frase. O escritor indígena Daniel Munduruku, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor-presidente do Instituto UKA, afirma que, “embora o senso comum tenha sempre levado a crer que as palavras índio e indígena tenham relação direta, isso não é uma realidade, é muito mais interessante reportar-se a alguém que vem de um povo ancestral pelo termo indígena do que índio”. E é muito comum ainda, as escolas comemorarem a data fantasiando e pintando as crianças. Ou trazendo uma música ou uma lenda que marca as origens dos povos da floresta. E se a proposta for essa, a resposta ao título é: NÃO! É essa a imagem real dos indígenas que habitam nosso país? Que cultura é essa que co-habitamos? Considerar a diversidade de povos ancestrais na educação infantil nos transporta para as raízes culturais que podem ser bases de importantes aprendizagens e que não podem ser banalizadas num cocar de papel.
Como vivenciar com as crianças nossas raízes culturais nas instituições?
Vivenciar a cultura na escola significa muito mais que vivenciar algumas datas que são comemoradas. E isso é muito diferente de organizar um currículo ou práticas em torno delas. Há uma discussão enorme sobre as datas comemorativas na escola. Principalmente pelo fato de trabalhar-se de maneira pouco crítica e muito padronizada. O fato é que é importante vivenciar as práticas culturais de forma crítica e reflexiva, entendendo o que se faz e porque se faz.
Participar de espaços sociais em que hajam espaços comuns de comunicação e construção de significados é muito importante, em qualquer idade. É justamente essa inserção cultural que possibilita a construção da identidade cultural das crianças pequenas. Portanto, ao escolher comemorar o dia do índio ou da consciência negra, deve-se pensar o que se quer alcançar com isso.
Quais as práticas devem ser desenvolvidas para que as crianças sintam-se inseridas e encantem-se no universo cultural riquíssimo desses e de outros tantos povos?
Será que cantar “vamos brincar de indío”…, pintar o rosto com guache e fazer cocar de papel são práticas educativas que contribuirão para o desenvolvimento cultural das crianças? Com certeza, NÃO.
Que tal pensar em descobrir como brincam crianças de outros povos? Ou mesmo descobrir sobre possibilidades de fazer cores e tintas com pigmentos naturais como nos ensinam povos ancestrais? Investir em um acervo pedagógico de qualidade integrando objetos culturais utilizados no cotidiano, as artes, o cinema e a literatura com tantos livros e publicações que nos apresentam mitos e seres fantásticos que nos encantam, os instrumentos, as sonoridades e músicas incríveis, a culinária saborosa e diversificada… São muitas as oportunidades que temos todos os dias para trazer a cultura e novos saberes dos povos ancestrais para dentro da escola, através de experiências, vivências e práticas culturais que façam sentido para crianças e adultos.
Por que saber da cultura indígena somente quando no calendário de datas comemorativas é “dia do índio”? Todo dia é dia de aprender e viver a nossa cultura!
É isso. Melhor é repensar o “Dia do Índio” como data comemorativa e pensar em como aproveitar a ocasião para fazer uma leitura crítica das questões que afetam esses povos. É fundamental que as escolas comecem a pensar os indígenas como seus contemporâneos, ou seja, como grupos que estão vivendo este mesmo tempo, com todas as suas facilidades tecnológicas e, mesmo assim, procurando manter vivas suas tradições. Assim, todos poderão perceber que são povos que lutam por dignidade e pelo direito de manter suas formas ancestrais de vida. E é importante lembrar que não há um dia marcado para fazer isso.
E todo ano tem dia de alguma coisa no calendário de quem escolhe se organizar por essas datas, tem ainda as festas populares da nossa cultura e essas escolhas, para nós professores, implicam em muitas questões. Além disso, a inclusão da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da Educação Básica brasileira é prevista pelas leis 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008. Pensando nisso e nas conversas com educadores, elegi 7 questões para pensarmos juntos:
1- Como vamos propiciar a interação e o conhecimento das crianças a partir das manifestações e tradições culturais brasileiras?
2- Como construir um currículo em que as datas comemorativas escolhidas sejam trabalhadas de maneira mais crítica e reflexiva?
3- Qual o papel da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas experiências e práticas culturais na escola?
4- Como a formação de professores pode contribuir para as concepções das crianças, das professoras e famílias sobre o acesso das crianças aos bens culturais?
5- Como os professores estão se inserindo como sujeitos históricos na sociedade?
6-Como contribuímos com as crianças enquanto sujeitos históricos em formação?
7-Como lidar com a influência das mídias e seus discursos colonialistas, preconceituosos e estereotipados ao resgatar nossas origens e ancestralidade?
Acrescente suas questões e leve o debate para sua instituição.
Sigamos juntos, Professores da Infância!