Sobre recortar orelhas e escolhas pedagógicas…

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Na nossa vida pessoal estamos sempre fazendo escolhas, queiramos ou não, conscientes ou inconscientes, por ação ou omissão, por impulso ou reflexão. O fato é que é importante ter consciência dessas escolhas. Na escola, em nossa vida profissional, também estamos o tempo todo fazendo opções pedagógicas e essas devem estar coerentes com as concepções adotadas, entendemos que as práticas dos professores e professoras devem fundamentadas e partir de intencionalidades pedagógicas.  O que percebo, é que nem sempre é assim…

Insiro nessa reflexão o trabalho a partir das datas comemorativas. Para pensar nos sentidos e aprendizagens das crianças, como ponto de partida vou citar a Páscoa, mas podemos pensar em qualquer outra data comemorativa que vem por aí… e são tantas!

Confesso que durante um tempo, eu recortei orelhas de coelhinho da páscoa, reproduzi desenhos para colorir, fiz lembrancinhas com doces e até pintei rostos com bigodes e nariz vermelho. E fui entendendo que tinha essa trabalheira toda, para nada… As crianças não se reconheciam nessas práticas que revelavam uma concepção de criança passiva, de professor da infância que tinha no centro do processo educativo apenas ele mesmo. Um adulto que pensava e agia conforme a sua lógica, desconsiderando todo o potencial criativo, inventivo e cognitivo das crianças. Uma concepção que ainda hoje gera conflitos nas escolas. “Eu só recortei, mas as crianças é que vão pintar…” “fiz a base e as crianças é que vão completar…” elas participam sim. Que tipo de “participação” é essa?

Hoje, com todos os estudos e descobertas acerca do desenvolvimento e aprendizagem infantil, das práticas compartilhadas, dos empréstimos de saberes e das concepções que norteiam os documentos legais em nosso país, temos suporte teórico e legal para refletir e parar de reproduzir práticas sem sentido. Fazer boas escolhas pedagógicas é nosso dever, é premissa escolher o que evidencia a ação da criança, sua estética, seu pensamento, seu jeito único de ser e estar no mundo.

Esse é meu convite para a reflexão sobre a Páscoa (e sobre tantas datas comemorativas presentes nas escolas): Professor(a), você tem escolhas a fazer! Escolha organizar contextos de aprendizagens com as crianças, compartilhando experiências, trocas de saberes, construindo novas posturas e relações. Não reproduza o senso comum que estimula o consumo, artificializa a docência, empobrece a escola de educação infantil, ignora a criança e a coloca como sujeito sem voz.

Se a sua instituição demanda o trabalho com essas datas, reflita no grupo de professores qual é o sentido disso tudo para a meninada. Converse, escute as linguagens das crianças, envolva as famílias, ajude a construir aprendizagens a partir desse “tema”. Famílias também precisam compreender as concepções de criança para entender as escolhas de cada instituição e é nosso papel dividir e comunicar os processos educativos da escola. Nunca foi sobre atender desejos de pais, de adultos, de clientes, sempre foi pelas aprendizagens e experiências culturais e estéticas da criança. Escola é lugar de criança pequena aprender, crescer e viver!

Acompanho uma escola que está promovendo as trocas entre professoras e crianças, trocas de gentilezas, de abraços, desenhos, culinárias e brincadeiras. E dessa maneira está fortalecendo seu projeto de escola que acolhe e reconhece a infância, independente de datas comemorativas. São escolhas. E você, o que está escolhendo viver com as crianças? Leve a discussão para seu grupo! O que vale é o diálogo e as novas construções!

Ao invés de gastar seu tempo recortando orelhas, escute as crianças, veja onde está o interesse delas e parta dessas observações para viver o inédito na profissão. Planejar, intervir e mudar a trajetória de sua vida pessoal e profissional é uma escolha. Pare de culpar a escola e estude a fundo as concepções de suas práticas. A sua docência é seu maior poder. Acredite.

Vem que eu te ajudo!