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Logo que organizei minha ida para Portugal, enviei um e-mail para a Escola da Ponte e solicitei uma visita. Eles já têm essa organização e recebem, todos os dias, grupos de quatro a oito visitantes em diferentes horários. Brasileiros representam o mesmo número de visitantes que os portugueses, 45%, e apenas 10% de visitantes vêm de outros países. A explicação para esse número significativo se deve ao fato da escola ter sido popularizada no país através do livro de Rubem Alves, que divulgou a Escola da Ponte como “a escola que sempre sonhei sem imaginar que ela pudesse existir”. Corroboro com o autor: ela é real!
Ao chegar, fomos recebidos por duas crianças. Uma menina de 12 anos e um menino de 9 anos. Eram os guias do nosso grupo, formado por duas professoras portuguesas e três professores brasileiros. Foi quase inevitável iniciar as comparações entre o nosso sistema educativo. Como seria possível transformar realidades ainda centradas na autoridade docente? Como contribuir para que os alunos sejam os maiores responsáveis e gestores do próprio conhecimento? Como integrar a comunidade nos processos educativos? Perguntas iam e vinham no meu pensamento enquanto seguia com o grupo.
A sensação de entrar na Escola da Ponte e ser guiada pelas crianças foi surpreendente! Iniciamos pelos “miúdos” de 5 e 6 anos. Como professora da Educação Infantil, fiquei encantada com o que as crianças e as paredes me diziam! A Escola utiliza “dispositivos pedagógicos” que funcionam como instrumentos para organizar o trabalho e a ação dos alunos. Quem já sabe muito sobre um assunto pode se inscrever no dispositivo Posso ajudar e oferecer seus conhecimentos para ajudar algum aluno em dificuldades. Esse é apenas um exemplo. São vários os dispositivos, desde o compartilhamento de saberes até a jardinagem e a coleta seletiva na escola. Toda a gestão do espaço e do conhecimento é organizada pelos alunos. Dessa maneira, eles vão construindo sua autonomia e aprendendo muito sobre ética e valores.
Continuei a visita fazendo perguntas e tentando compreender os princípios que orientam práticas tão ativas e significativas. Passei pela turma da Iniciação, Consolidação e Aprofundamento e vi alunos acompanhados por professores-tutores trabalhando com muita autonomia em grupos, em duplas ou sozinhos. Na Escola, cada grupo de dez alunos escolhe os tutores com quem quer trabalhar. Nessa hora, uma pergunta: E quais são os critérios de escolha desse tutor?
A resposta que ecoa, até agora, em meus ouvidos: Escolhemos quem mais gostamos.
Acredito que, em uma escola que não tem aulas, não aplica provas, não divide os alunos por idades, trabalha com construção da autonomia por meio do desenvolvimento de atitudes, realiza assembleias para resolver problemas e conversar, vive um currículo dinâmico e adaptado a cada um, respeita processos individuais e valoriza o coletivo, onde os professores são tutores, isso não poderia ser diferente: o que rege, na verdade, é o afeto.
Quer coisa melhor que aprender com quem a gente gosta?
Para saber mais: http://www.escoladaponte.pt/
ALVES, Rubens. A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. São Paulo: Papirus Editora, 2001. 120p.