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Há uma máxima que diz que o trabalho do professor é solitário. Que depois que fechamos a porta da sala temos a liberdade de fazer o que quisermos: somos somente nós e os alunos. Todas as vezes que me deixei levar por esse posicionamento me senti na contramão da profissão. É preciso ter cuidado com esse discurso do isolamento.
Desde que iniciei minha carreira como professora, sempre busquei estabelecer parcerias com aqueles colegas que podiam acrescentar algo. No início, era mais um pedido de socorro mesmo, uma vontade de aprender a fazer o que ainda não sabia. E dei a sorte de aprender com colegas que admiro e com os quais convivo até hoje. A universidade me deu teorias, mas não me ensinou a alfabetizar, por exemplo. Isso e outras muitas coisas aprendi com outros colegas, mais experientes na profissão. Mas nem sempre foi assim…
Lembro-me de uma experiência em uma instituição de Educação Infantil que tinha implícito o modelo de trabalho solitário e competitivo. O projeto político da escola em questão dizia de uma escola democrática, mas o que vivia, no dia a dia, era o oposto. As diretrizes levavam o grupo de professores a assumir esse lugar de isolamento. Parecia que eu vivia uma competição sem fim com os colegas de trabalho. Ninguém falava o que fazia e como fazia, não se compartilhavam problemas nem soluções, a escola parecia um campo de disputa. E é claro que essa relação chegava até as crianças. Nessa escola, os melhores eram premiados. Os outros se tornavam quase invisíveis…
Eu era professora de crianças de 4 anos e, naquele início da carreira, me sentia inexperiente. A insegurança conspirou para que me confinasse em minha sala de aula. Como não tinha apoio dentro da instituição, busquei ajuda fora da escola, participei de grupos de estudos e discussão das práticas pedagógicas e, dessa maneira, fui tomando consciência das concepções que regiam o trabalho pedagógico e das relações naquele ambiente. Também comecei a pesquisar escolas que tinham projetos mais democráticos, que favoreciam as trocas, a escuta e a ação dos agentes envolvidos. E foi um caminho sem volta. Abri a porta da minha sala e decidi nunca mais fechá-la.
Comecei a questionar o modelo e as relações da escola. Desenvolvi estratégias de ensino onde encontrava uma vez por semana com uma colega de outra turma para as crianças brincarem juntas. A prática durou até que uma criança machucou e fui orientada a acabar com esses encontros e ficar na segurança da sala de aula. Felizmente, fiquei por lá apenas um ano e aprendi. Aprendi, na prática, o que a teoria nos ensina sobre as trocas e interações entre pares. Aprendi que nossa profissão não é solitária, ao contrário. Educar é compartilhar. É experimentar, errar, ensinar e aprender juntos. E junto é bem mais gostoso!
Texto publicado originalmente em http://redeprofessorestransformadores.strikingly.com