ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO

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As concepções atuais que tratam sobre as infâncias apresentam a ideia de um bebê ou criança como um pequeno cidadão que sorri, chora, grita, imita, silencia, pensa, observa, teoriza, conversa, inventa histórias, pergunta sobre tudo e confronta suas ideias sobre o mundo por meio de múltiplas linguagens. Esta também é a ideia de criança potente, ativa que está expressa na BNCC e presente no cotidiano de todas as instituições de educação infantil: de uma criança que tem voz, quer ser ouvida e acolhida! E tudo isso implica em olhar para os campos como oportunidades de se trabalhar em consonância com essas concepções. Então, vamos lá!

Esse é o campo de experiências: Escuta, fala, pensamento e imaginação. Um campo da comunicação. Um campo que imprime muita importância na construção e desenvolvimento  da linguagem oral, leitura e escrita desde os bebês, com a intenção de ampliar o desenvolvimento não só das linguagens, mas também do pensamento, da inventividade e da imaginação.

Escutar, falar,pensar e imaginar!

A aproximação de diferentes linguagens traz para o cotidiano da Educação Infantil momentos de “imaginar” como o brincar com as linguagens, com o mundo a sua volta, construir e expressar “pensamentos” em forma de histórias e narrativas autorais, “escutar”, no sentido de produzir/acolher mensagens orais, gestuais, corporais, musicais, plásticas, além das mensagens trazidas por textos escritos e “falar”, entendido como expressar/interpretar não apenas pela oralidade, mas também pela linguagem de sinais, pelo corpo, pela escrita convencional ou não convencional.

Os bebês, por exemplo, desde o nascimento, as participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de comunicação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Nessa fase, é o corpo que fala. E assim, progressivamente a linguagem oral vai tomando seu espaço expressivo e comunicativo.

Ler e escrever na educação infantil é possível!

Todas as crianças são competentes e habilitadas cognitivamente para aprender. Todas podem aprender se incentivadas a isso. Além disso, sobre as práticas de leitura e escrita, o contato também desde bebê com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Podemos dizer que a alfabetização começa no útero materno! Quando a mãe conversa com o bebê, ouve músicas e toca sua barriga acontecem estímulos comunicativos que são o início desse processo. E quando nasce, o contato com livros, músicas e posteriormente letras, palavras escrita, tudo isso acontece como um processo cognitivo complexo que se desenvolve no entendimento da língua.

No convívio com livros e outros portadores de textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas. Por isso o desenho é tão importante e como linguagem deve ter espaço garantido no cotidiano das crianças. Diante disso, faz-se importante lembrar da intercomplementariedade dos campos. Eles são vivenciados de maneira complementar, um campo nunca está sozinho!

E as crianças com deficiências?

As ideias aqui expressas se referem ao trabalho docente com todas as crianças da Educação Infantil. As crianças com deficiência tem os mesmos direitos de aprendizagem e desenvolvimento das outras. E tem o direito de serem apoiadas em suas formas comunicativas realizadas a partir da língua de sinais ou do Braile, no caso das que têm deficiências auditivas e visuais, por exemplo. Conhecer suas perguntas e suas respostas, suas narrativas e hipóteses, enfim, sua conversa, é tarefa que deve envolver a professora e todas as crianças.

Há inúmeras possibilidades de trabalho nesse e em todos os outros campos se consideramos as crianças como seres potenciais e temos consciência da responsabilidade formativa que cabe ao adulto que está com a criança. Crianças com deficiências são crianças, possuem os mesmos direitos de aprendizagem e devem ter oportunidades de experimentar a infância na escola com todo seu potencial, indiferente de suas dificuldades. Hoje temos muitas ferramentas que auxiliam a aprendizagem de crianças com deficiências. Temos as tecnologias assistivas, as comunicações alternativas e tantas outras estratégias que podem se adequar as necessidades específicas de cada um e potencializar os processos educativos.

Tem que alfabetizar na Educação Infantil?

Não!!! Conforme a BNCC, a obrigatoriedade da alfabetização é dos anos iniciais do ensino fundamental, 1º e 2º ano e não da Educação Infantil.

Lembrando que, quando a criança vive um contexto familiar e escolar que valoriza e estimula a escrita e a leitura com sentido, a fruição por meio da literatura, as conversas, a música, as artes, os desenhos e outras formas de comunicação, a criança muitas vezes descobre os “segredos” do código da linguagem alfabética e se alfabetiza antes dessa etapa do fundamental. Mas o importante é entender que, por meio das experiências vivenciadas na infância, ler e escrever são processos que vão se construindo e precisam de tempo para isso. Por isso, as práticas significativas de oralidade, leitura e escrita citadas inicialmente são tão importantes nessa etapa.

Ficar silabando, copiando coisas sem sentido, exercitando treinos fonológicos, por exemplo, são atividades completamente desnecessárias na educação infantil. As crianças não veem sentido, se cansam e não se sentem motivadas por práticas que envolvem treinamentos.

Portanto, nada de antecipar práticas que são do ensino fundamental.

5 dicas para Professoras(es) da Infância

  1. Estudar, conhecer bem sobre o desenvolvimento da criança e exercitar diariamente uma escuta atenta e um olhar sensível para acompanhar as crianças em suas interações, curiosidades e descobertas. A prática de estudos e o exercício ajudam a observar, escrever, refletir, planejar e agir com intencionalidade pedagógica.
  2. Brincar de faz de conta e promover vivências nas quais a linguagem verbal na Educação Infantil, aliada a outras linguagens, não seja um conteúdo a ser tratado de modo descontextualizado das práticas sociais significativas das quais a criança participa. Explorar a língua, experimentar seus sons, diferenciar modos de falar, de escrever, refletir por que se fala do jeito que se fala, e por que se escreve do jeito que se escreve.
  3. Respeitar o processo de aquisição da linguagem oral, da leitura e da escrita e reconhecer a participação ativa da criança no processo de significar o mundo. Promover brincadeiras e rodas diárias de conversas, uso funcional da escrita nas rotinas, planejamentos e projetações coletivas, ler histórias, desenhar, recontar e brincar com músicas, parlendas e poesias são atividades que podem estimular as pesquisas nesse campo de experiências.
  4. A escuta de músicas com repertório de qualidade e a leitura de histórias possibilita à criança perceber como afetos, medos e surpresas podem ser comunicados por sons, palavras e pela escrita, constituindo um meio de conhecimento de si mesmo, dos outros e do mundo, de ampliação de experiência, na vivência estética do texto com suas imagens e sons.
  5. Viver um cotidiano simples e verdadeiro na escola, com intencionalidades e sentidos. E lembrar de oportunizar a ação da criança. Ela está em primeiro lugar na escola, sempre.

Vamos continuar nossa conversa sobre os Campos!  Nesses outros artigos você pode aprender sobre o campo de experiências:

O Eu, o Outro e o Nós, https://fernandaclimaco.com.br/eu-o-outro-e-o-nos/

Corpo, Gestos e Movimentos, https://fernandaclimaco.com.br/corpo-gestos-e-movimentos/

Traços, Sons, Cores e Formas, https://fernandaclimaco.com.br/tracos-sons-cores-e-formas/

Clica para aprender!

 E se quiser saber mais sobre a BNCC na Educação Infantil, vem que eu te ajudo!