Desemparedar a Educação Infantil

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Tenho percebido que a valorização da ligação das crianças com os ambientes e recursos naturais começa a aparecer nas práticas dos professores. Por outro lado, as iniciativas que reconhecem a qualidade e que desenvolvem o uso pedagógico intencional desses recursos ainda são escassas nas escolas que venho acompanhando. Observo, nos docentes, o medo dos riscos, talvez pelo desconhecimento quanto ao repertório a ser proposto e desenvolvido, e, principalmente, a ausência de praças, parques e ambientes arborizados nas instituições ou próximos a elas.

Não há nada de inovador na ideia de que a educação deve experimentar o mundo natural. As escolas rurais, por exemplo, já desenvolvem esses conteúdos há tempos. Na Educação Infantil, existem as Escolas Bosque, Escolas de Floresta, Escolas Parque, que possuem integração profunda com o ambiente natural. Conheço escolas que fizeram investimentos nessa área de conhecimento e, para isso, optaram pela construção de laboratórios com variados recursos tecnológicos para o uso de alunos e professores especialistas. Outras escolas utilizam material didático específico e, a partir de livros e apostilas, também trabalham esse conhecimento. Porém, tenho notado um movimento acontecendo, no ensino e aprendizagem, de conceitos que envolvem natureza e sociedade, e que se relacionam diretamente com as experiências dos alunos e professores na ocupação e no entendimento de espaços na cidade e na natureza, fora das paredes da escola.

Atualmente, participo de grupos de estudos que discutem essa temática e, a partir das minhas vivências, promovo e estimulo trabalhos integrados com a cidade que podem trazer fundamentação, conhecimento e inspiração para a atuação do professor.

Assim, reconheço que dois olhares nessa abordagem de desemparedar a infância são fundamentais: a importância da participação da criança na construção de sua própria aprendizagem e a potência dos ambientes na natureza como fontes inesgotáveis de desafios, pesquisas e aprendizagens. Essa abordagem está criando conflitos nas crenças de que o fato de plantar feijões em vasos na sala ou que fazer trabalhos com colagem de folhas são suficientes para conectar os alunos ao mundo natural e toda a sua potencialidade.

Acredito que, quando o ambiente natural for reconhecido oficialmente pelo professor como um potente educador e promotor de aprendizagens significativas, certamente, novas práticas pedagógicas serão criadas e efetivadas, o que promoverá a ampliação das experiências e potencializará o conhecimento produzido nessas oportunidades fora do prédio da escola.

Ao mesmo tempo, existem possibilidades para organizarmos pequenos cantos, ilhas de natureza nas instituições e até na sala de aula e incluirmos experiências, novos olhares e aprendizagens sobre o mundo e sobre si mesmo, no dia a dia dos alunos. Essa conversa precisa continuar… Enquanto isso, vamos voltar para a escola e observar o que há fora da sala de aula? São muitas as possibilidades de se (re)conectar com a natureza a nossa volta.

Texto originalmente publicado em www.http://redeprofessorestransformadores.strikingly.com