Os primeiros meses do resto de nossas vidas

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Hoje vou confessar: já trabalhei com o Ensino Fundamental, mas admito que meu coração está nos Anos Iniciais da Educação Infantil. Como professora dessa modalidade, experimentei a docência para crianças de 0 a 6 anos. Interessante como muitas pessoas utilizam essa expressão, “0 a 6”. Eu mesma me referia assim às idades referenciais da Educação Infantil.

Mas o que significa ser professor de crianças de zero ano? Zero significa que existe falta. E há muitas pessoas e educadores que pensam assim sobre os bebês: como aqueles que ainda não sentam, não andam, não falam. São uma fofura, tão espertos, pena que ainda não fazem nada! Uma contradição, já que zero ano significa exatamente os primeiros meses do resto de nossas vidas, as primeiras experimentações, construções de sentidos, interações preciosas e aprendizagens. Bebês aprendem o tempo todo.

Quando estou com eles, observo que sabem muitas coisas que nós, adultos, temos dificuldade em ver, compreender e reconhecer como potencialidade, como um saber. E esse é o maior desafio para quem trabalha com eles: cuidar, observar, intervir e conseguir identificar as importantes conquistas e as aprendizagens dos primeiros meses.

Comprovo a tese dos primeiros meses todas as vezes em que estou em formação de professores no berçário. E tenho gostado cada vez mais de estar por lá. É uma oportunidade de repensar minhas ações educativas, propostas e, principalmente, de desenvolver uma observação cada vez mais sensível acerca das pesquisas dos pequenos. Há um mundo a ser explorado e os bebês estão ali contando com o olhar afetuoso e seguro dos adultos que lidam com eles. Um olhar que começa na adaptação escolar e que se mantém nos momentos das descobertas e dos cuidados essenciais.

Quem acredita que as crianças têm zero ano acredita também que os cuidados são suficientes para a escola, creche ou instituição cumprir seu trabalho educativo com eles. Em parte, é verdade. Pois, com poucos meses de vida, as crianças precisam mesmo de muitos cuidados, mas precisam também de muitas oportunidades para se desenvolverem de maneira integral, tanto cognitiva, quanto emocional e socialmente. E, para isso, precisam de professores que promovam o bem-estar e que estejam dispostos a aprender a ver aprendizagens através das múltiplas linguagens.

Que sorte aprender a ser professor com os bebês!

Texto originalmente publicado em www.http://redeprofessorestransformadores.strikingly.com