Construindo pontes

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Muito antes de estar lá, ela já era minha velha conhecida. Uma escola pública, sem aulas, transgressora, inspiradora, a Escola da Ponte. Na verdade, a conhecia pelos livros, pelas histórias contadas por Rubem Alves e pela experiência de trabalho com o professor José Pacheco em uma escola de Belo Horizonte.

Na ocasião desse trabalho, ele veio como um consultor e iniciamos diversos estudos para compreender os caminhos percorridos pela Ponte e a realidade da nossa escola. Avançávamos pouco a pouco. Cada passo dado era refletido com toda a comunidade escolar. Pais, alunos, funcionários e professores se tornaram parceiros de uma experiência educativa inovadora que era construída a muitas mãos.

Iniciamos o trabalho com o contraturno, criando uma tutoria em que as crianças escolhiam seus projetos de estudos de acordo com seus interesses. Cada grupo de crianças tinha um professor tutor, que mediava a organização da pesquisa e auxiliava os alunos na construção de seu próprio currículo. Foi uma experiência motivadora para muitos professores que, como eu, puderam ter a chance de trabalhar com outros segmentos na escola com mais liberdade de fazer escolhas e percursos diferenciados. De manhã, eu era tutora das crianças de 8 a 10 anos e, de tarde, tinha a minha turma de 4 e 5 anos no Infantil. O trabalho no contraturno e a tutoria foram tentativas de romper com diversos paradigmas que a escola tradicional nos deixou de herança, tais como a rigidez de um currículo extenso e engessado, a organização dos tempos e espaços e o trabalho docente centralizador.

Na Educação Infantil, vivi uma experiência ainda mais inovadora. Paredes de duas salas foram quebradas e, junto com elas, quebraram-se também minhas práticas isoladas e fragmentadas e, em seu lugar, eu e uma colega professora, com quem aprendi muito, trabalhamos juntas e descobrimos novas ações educativas centradas na construção da autonomia e no trabalho por projetos de pesquisas. Essa experiência me fez compreender a importância de refletir a docência, transgredir práticas correntes e romper com a tradição didática no trabalho com crianças pequenas. Através de muitas discussões e estudos, fomos encarando e vencendo os desafios de compartilhar as ações educativas, o espaço, as crianças e fomos construindo, juntas, novas atitudes docentes e discentes, novas pontes para as aprendizagens.

Foi um divisor de águas, uma verdadeira transformação. Vivenciei uma ruptura de paradigmas e nasceu, naquele tempo, uma nova professora. Atualmente, é um exercício diário apurar a escuta e o olhar para os alunos, ser mediadora e parceira de trabalho, acreditar no potencial de cada um e trabalhar por uma educação que promova mudanças na sociedade. Para mim, esse é o maior legado da Ponte: inspirar a construir pontes.

Texto originalmente publicado em www.http://redeprofessorestransformadores.strikingly.com