Qualificando os cuidados no dia-a-dia e no planejamento

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“Como é diferente a imagem do mundo que uma criança recebe quando mãos silenciosas, pacientes, cuidadosas e ainda seguras e resolutas cuidam dela e como diferente o mundo parece ser quando estas mãos são impacientes, rudes, apressadas, inquietas e nervosas.” Emmi Pikler

É a interação entre o adulto e a criança que proporciona a aprendizagem da cultura e desenvolve a capacidade de se relacionar,  socializar. Sãos mãos, olhares, gestos, posturas, palavras… O cuidado traz segurança, cria e fortalece vínculos afetivos. E o afeto, é base para as aprendizagens. Nesse sentido, cuidar é fundamental na educação infantil, professor(a)!  Todas as crianças estabelecem vínculos fortes com quem cuida, sentem-se acolhidas e seguras para novas relações e descobertas.

Apesar da dimensão do Cuidar e Educar estarem postos nas Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil como elementos indissociáveis e orientadores da ação pedagógica na infância, ainda há um senso comum que coloca as práticas de cuidado em um nível inferior nas práticas pedagógicas na educação infantil. Muitas vezes, o momento de alimentação, banheiro e até mesmo a troca de fraldas são delegadas a um ajudante e não ao professor. Aí já acontece a primeira ruptura entre o cuidar e educar. Todos os adultos e crianças tem direito ao cuidado. É durante os momentos de cuidados cotidianos que o professor se relaciona com as crianças.

Importante entender que as ações de cuidado e práticas culturais de vida diária produzem o desenvolvimento de diversas aprendizagens, por isso, o cuidar deve estar vinculado ao educar. São momentos de estreitar laços afetivos, de estar vivendo um momento único com aquela criança. Com os bebês, ao trocar a fralda e pedir que ela segure o lenço para limpar você estimula a participação e ajuda. Incentivar a comer sozinho favorece a capacidade motora. Conversar durante o banho desenvolve a linguagem oral e as relações afetivas. Enquanto tentam calçar o próprio sapato ou vestir-se sozinhas as crianças testam limites do próprio corpo, desenvolvem percepção e imagem corporal, adquire maior destreza motora, ao escovar os dentes de maneira cada vez mais eficiente, quando começam a se alimentar usando talheres autonomamente, tentando acertar a própria boca, quando experimentam diferentes alimentos ampliam sua memória gustativa, dormir e acordar tranquilo traz sensação de segurança afetiva, uma troca de fraldas com troca de olhares, sorrisos e palavras ajuda a construir e fortalecer vínculos afetivos. Muitas vezes, o professor precisa de ajuda extra e essa deve ser solicitada, com um olhar atento para não estar sempre repassando uma responsabilidade que é de todos na escola.

Percebe-se que as crianças querem fazer tudo sozinhas, elas devem e podem! Mas precisam de tempo para experimentar,  vão errar, tentar de novo e necessitam de orientação e apoio nesses momentos. É preciso conhecer o grupo e planejar a partir do que se observa, os interesses das crianças.

Crianças com deficiência e crianças pequenas requererem cuidados especiais e isso implica em diferentes tempos para organizar o trabalho. Portanto, devem ser maiores os tempos no planejamento para os cuidados das crianças que ainda dependem muito da ação do adulto.

Enfim, reconhecer nessas ações cotidianas conhecimentos e habilidades importantes para o desenvolvimento pleno das crianças, implica em dar a essas vivências a importância que elas tem no processo de desenvolvimento e aprendizagem de cada uma. E são aprendizagens para a vida toda! Considerar contextos e práticas culturais também faz parte desses cuidados. Crianças indígenas, quilombolas ou moradoras da zona rural, por exemplo tem hábitos culturais diferenciados e a escola precisa considerá-los.

Estudantes, professores e profissionais da escola precisam entender que a dimensão do cuidado não os desmerece profissionalmente. Ao contrário, torna-os profissionais completos e mais competentes para lidar com todas as crianças na educação infantil. E podem ser ponto de partida para novas aprendizagens.  Por isso, observe, pense, planeje e cuide muito bem de suas crianças.