Planejamento para os bebês: cuidar e educar

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O cotidiano dos bebês envolve, além de muitas experiências, descobertas e relações, atos de cuidados e educação conforme orienta a BNCC e as Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil – DCNEI. Mas como planejar um cotidiano que atenda os direitos e as necessidades de bebês e crianças bem pequenas com respeito e qualidade ?

“Não me formei só para ficar limpando bunda de criança!” Essa fala, infelizmente ainda é dita por educadores de crianças pequenas. E é uma das maiores incoerências vistas e ouvidas na profissão. Eu já escrevi um artigo sobre isso aqui: http://redeprofessorestransformadores.mystrikingly.com/blog/coluna-da-fernanda-climaco-nao-estudei-para-limpar-bunda-de-crianca

Sem dúvidas essa fala reflete uma das inquietações na ação dos profissionais que estão com os pequenos. Ser professor(a) de bebês é ser cuidador, ser amoroso, ser provocador de ideias, investigador de espaços e materiais, ser pesquisador das pesquisas e descobertas dos pequenos. É um lugar muito especial, uma profissão que exige muita competência, saberes que envolvem as relações que se tecem entre cuidar e educar.

Quem escolhe ser professor(a) da infância precisa compreender que comer, dormir, tomar banho, trocar xixi e cocô e muitas outras questões que envolvem cuidados são conteúdos do currículo da Educação Infantil. São momentos de atenção pessoal que envolvem investimento de tempo, organização e disponibilidade e portanto, precisam ser planejados.

Qualificar as práticas de atenção e cuidados pessoais é garantir os direitos de aprendizagem e atender às necessidades físicas e emocionais das crianças, oferecendo condições de sentir-se confortável em relação ao sono, à fome, à sede, à higiene, à dor, etc. Mas não apenas isso. Nesse processo, a criança bem pequena é vista como um sujeito que já pode fazer escolhas e que aprende muito com as interações que acontecem nesses momentos cotidianos.

Precisa planejar mesmo?

Se não há planejamento desses momentos, a ação se torna mecânica e, nesse sentido, perde-se uma grande oportunidade de viver muitas aprendizagens a partir das relações que se constroem nos cuidados. Pode-se utilizar um planejamento de cuidados durante semanas, quando a intenção é criar rotinas. A observação do adulto ajuda a alterar processos a medida que as crianças apresentam maior autonomia. Por exemplo, bebês que comiam em cadeirinhas próprias passam a comer no refeitório. Essa mudança requer pensar no período de transição (novo ambiente, novos objetos…), mudanças de tempo( mais tempo para explorar a novidade, comer…) , as atitudes pacientes do adulto fortalecem a adaptação dos pequenos. Tenha calma e construa um cotidiano de significados com os pequenos. E para uma professora de bebês atualizada e inovadora, essa é uma prática que também a qualifica, portanto, conheça bem seu grupo e planeje os momentos de cuidados com excelência para os bebês!

Esse quadro foi sugerido pela prof. Ana Lúcia Santos, É o que funciona para a realidade do trabalho dela. Crie sua própria maneira de planejar, utilizando mapas de ideias, mapas projetuais, tabelas… a criação, é sua, própria para seu grupo.

Comer e aprender

Os momentos de alimentação, por exemplo, representam uma prática cultural repleta de simbolismos. A forma como acontecem esses momentos revelam um ritual cotidiano. Desde o local onde se come (sala ou refeitório), até a escolha dos alimentos, instrumentos que utiliza para comer, como se organizam as cadeiras… esse rico ritual que se estabelece no dia a dia diz respeito à formação cultural e social. Aprender a comer sozinho e organizar os utensílios revelam conquistas e independências.

Portanto, viver situações planejadas de alimentação e aprender progressivamente a alimentar-se envolve aprendizagens sociais de (auto-cuidado, saúde, bem estar), aspectos motores (tais como movimentos de pegar e levar o alimento a boca, com ou sem talheres), de construção da autonomia, dentre outros.

Aprender dormindo!

Normalmente, após alimentar-se, a higienização se faz necessária. Preparar um ambiente tranquilo e planejar tempo e disponibilidade para atender individualmente cada bebê,  são características de um bom momento educativo de cuidados. Deixar os bebês limpos e confortáveis, conversar com eles sobre isso, promove bem estar e tranquilidade para um sono agradável.

E dormir na escola não é um momento fácil para todas as crianças. Há resistências, incômodos. Dessa maneira, planejar rituais para ajudar a dormir e também para acordar com tranquilidade, sem correrias, ajuda a tornar esse momento um momento de cuidar e educar. Música instrumental, atitude positiva e afeto sempre ajudam.

O que ensinamos às crianças por meio do cuidado?

Se a creche-escola é um espaço de aprendizados diversos e contínuos, o que ensinamos às crianças por meio das práticas de cuidado?

Ao cuidar de uma criança, ela aprende muito sobre autocuidado e cuidado com o outro, aprendizagens para a vida toda. E isso não é pouca coisa, não! Garantimos os direitos de aprendizagem e acessamos, dessa forma, o Campo de experiências: eu, o outro e o nós, articulado com os objetivos do campo Corpo, gestos e movimentos. Outros campos também podem se fazer presentes nos momentos de cuidados e é isso que a professora deve observar e se perguntar: como as crianças se expressam? Quais aprendizagens se tornam visíveis? Quais narrativas emergem nesses contextos?

Acompanhamento, documentação e avaliação

Ao longo do processo a professora deve utilizar estratégias para documentar, acompanhar e avaliar seu trabalho com os bebês. Para isso pode utilizar: fotos, videos, áudios, outras produções

As observações coletivas e individuais, não devem servir para classificar ou estigmatizar as crianças, mas para permitir construir perspectivas futuras de intervenção pedagógica e planejamento. Crianças bem pequenas devem ser incentivadas a viver o cotidiano aprendendo sobre si na observação dos cuidados dos adultos e dos cuidados com o próprio corpo (lavar as mãos antes das refeições, levar pratos ao local adequado ao término da alimentação, ajudar na organização de materiais, entre outros).

Dar atenção e investir tempos para as crianças viverem profundamente experiências que envolvem cuidar e educar são ações previstas na BNCC.

A construção de mapas mentais permite a ampliação da reflexão pedagógica sobre a ação e projetação do(a) professor(a). É um exercício de pensamento e registro que vale a pena. Experimente!

Portanto, planeje os momentos de atenção e cuidados pessoais com os bebês, qualificando os momentos de acolhimento, das trocas, alimentação, descanso, entre outros. Dessa maneira, você garante os Direitos de Aprendizagem no trabalho com diferentes Campos de Experiências e a aquisição dos Objetivos de Desenvolvimento e Aprendizagem.

E não é só isso!

Quer aprender mais?  Experimente planejar o cuidar e educar e vamos continuar a refletir sobre o cotidiano dos pequenos num próximo artigo sobre Planejamento de rotinas para os bebês.

Vem que eu te ajudo!