Sou a professora que queria ter tido

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Uma das inquietações do meu cotidiano como professora de professores é compreender o processo formativo de cada um deles que passa por processos de aprendizagem docente. Busco apoio nos documentos e projetos políticos das escolas que trazem ali suas concepções de criança, de escola e perfil docente e percebo que, apesar dos avanços e estudos contemporâneos sobre a infância, nas escolas, as práticas educativas são heterogêneas e, muitas vezes, contraditórias. E é a partir dessas opções metodológicas, que emergem os diferentes aportes teóricos que sustentam o perfil do educador, sua formação e seus saberes.

Quando estou em formação com os professores, observo as interações, falas, intervenções, escritas, olhares. Analiso atividades, propostas e experiências que oferecem aos alunos. Percebo relações no trabalho, parcerias, desejos, ações colaborativas e os desafetos. Deixo falar. Escuto. Faço perguntas. São formas que descobri e que estou desenvolvendo, de identificar concepções e de reconhecer potencialidades.

O que ultrapassa as diferenças observadas e praticadas é a importância de perceber a formação docente como uma ação coletiva, já que se compreende que é através das interações sociais que o processo de formação humana acontece, na relação com e entre as pessoas. No entanto, percebo que esse aspecto não é levado em consideração na prática diária do professor, que, muitas vezes, reconhece, mas não se referencia nas fundamentações teóricas ao planejar o trabalho com os alunos e, dessa maneira, não percebe que ele também é aprendiz. Eterno aluno!

Contudo, acredito, cada vez mais, que é a partir do estudo da prática compartilhada com a equipe que emerge a necessidade de aprofundamento nas teorias que fundamentam as práticas educativas na infância. Processos vividos, escritos, estudados, refletidos e problematizados podem aproximar os professores de suas concepções. E, dessa maneira, causar impactos e transformações em suas práticas.

Pensando nisso, me lembrei de uma conversa em uma formação de professores. Naquele dia, realizávamos intervenções em sala, quando escutei da professora: Eu acredito no potencial dos meus alunos. Quem precisa do meu apoio, planejo tempos para poder estar junto. Também deixo que fiquem com os colegas, eles aprendem mais entre eles do que comigo. Observo de longe e anoto. Compartilho e planejo com a minha colega e com a coordenação. Aprendi a jogar futebol para brincar com eles. Tenho respeito profundo pelas crianças. Escuto quem quer falar. E canto todo dia com meus alunos, vivo a euforia das bagunças e a introspecção dos silêncios. Sou, para eles, a professora que queria ter tido. Ponto.

Como professora de professores, tenho dias assim… Aprendo mais que ensino.

Texto originalmente publicado em www.http://redeprofessorestransformadores.strikingly.com